Depois de cinco anos de curso descobre-se que o Direito não é um amontoado de artigos, parágrafos, incisos e alíneas. Compreende-se que ele não está na lei nem no prudente arbítrio do juiz, formas parciais de expressão da transitoriedade do jurídico. O Direito não traz respostas, mas, sim, perguntas, e na história da humanidade sempre foi mais importante duvidar do que ter certezas. Pode parecer impossível viver sem a comodidade proporcionada por verdades comumentes aceitas. Contudo, os homens capazes de construir os seus próprios destinos questionam o posto e o imposto. Eles sabem que os grandes só se parecem grandes quando estamos de joelhos. Eles desafiam o poder, a violência e a força, porque têm em vista uma vida mais limpa do que esta. É nesse horizonte de idealidade que se encontra o verdadeiro Direito, diferente das versões espúrias que transitam por este país. Antes de ser uma profissão, o Direito é um ato de fé no ser humano e na possibilidade de convivência pacífica dos povos. Talvez por isso ele se mostre tão conflituoso, tão ilógico, tão irreal. Por carregar nos ombros o fardo da utopia, o Direito, muitas vezes, pode se assemelhar a um sonho: belo e mentiroso. Mas há que se lutar pelos sonhos, sob pena de vivermos em um eterno pesadelo. Faz parte da dignidade do bacharel em Direito não se submeter ao discurso resignado e covarde dos nossos dias sombrios. Como ensinou Shakespeare, ser grande não é bater-se por altos propósitos, mas achar motivo para briga em uma palha, quando a honra está em jogo. Realmente depois de cinco anos de curso descobre-se que o Direito não é e nem pode ser um amontoado de palavras vazias. Ele é mais do que isso. Cabe a vocês, meus caros ex-alunos e agora colegas, defini-lo no livro de suas vidas.