Ao Cadaver

Quando te curvares com a rígida lâmina do teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que, em seu seio, o agasalhou; sorriu e sonhou os sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado; esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudade dos outros que partiram. E, agora, jaz na fria lousa, sem que por ele fosse derramada uma lágrima sequer, sem que tivesse um único beijo de despedida, sem que por ele houvesse uma só prece. Seu nome, só Deus sabe, mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade — a humanidade que por ele passou indiferente e que através de sua morte desvendou os mistérios da vida”.